Livro "A geração ansiosa: Como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais" de Jonathan Haidt

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7/7/20252 min read

O psicólogo social e autor best-seller Jonathan Haidt retorna com um livro provocativo e essencial para pais, educadores e profissionais da saúde: A Geração Ansiosa: Como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais. Publicado no Brasil em 2024, o livro se baseia em extensa pesquisa científica, dados comparativos internacionais e uma análise social contundente sobre como as transformações tecnológicas estão moldando (e prejudicando) a geração nascida a partir de meados dos anos 2000.

Haidt parte de uma constatação alarmante: as taxas de depressão, ansiedade, automutilação e ideação suicida entre adolescentes, especialmente meninas, explodiram entre 2010 e 2020 em diversos países. O autor busca entender as raízes dessa crise e propõe uma tese clara: a infância foi “desconstruída” por uma combinação de cultura do medo, excesso de proteção e a introdução precoce de smartphones e redes sociais.

Segundo Haidt, houve uma ruptura na forma como a infância e a adolescência são vividas. Ele argumenta que, ao contrário das gerações anteriores, as crianças de hoje crescem em ambientes digitais altamente estimulantes, mas empobrecidos em experiências reais, físicas e sociais. A exposição constante às redes sociais desde cedo, aliada à falta de autonomia no mundo offline, contribui diretamente para a fragilização emocional dos jovens.

O livro é dividido em partes que exploram o que ele chama de "infância com base em aplicativos" e como essa transformação cultural afetou o desenvolvimento psicológico das crianças. Haidt mostra como a substituição de interações presenciais por curtidas, filtros e notificações prejudica a formação de identidade, autoestima e capacidade de lidar com frustrações. Além disso, ele demonstra como o acesso precoce à internet e a conteúdos inadequados (inclusive pornografia, que ele aborda de maneira franca) tem consequências sérias para o desenvolvimento emocional e relacional.

Um dos pontos mais fortes da obra é a forma como Haidt articula ciência e narrativa acessível. Ele apresenta dados de forma clara, sem perder o vínculo humano. Histórias reais, relatos de adolescentes e observações clínicas enriquecem a leitura, tornando o alerta ainda mais urgente.

Contudo, A Geração Ansiosa não é apenas um diagnóstico sombrio. Haidt também oferece caminhos para a mudança. Ele propõe uma “nova norma social”, que passa por quatro pilares principais: proibir smartphones na escola, retardar o uso de redes sociais até pelo menos os 16 anos, permitir mais brincadeiras livres e dar mais autonomia às crianças no mundo real. São propostas diretas, simples em teoria, mas desafiadoras na prática – e que dependem de uma ação coletiva da sociedade.

A obra também traz reflexões sobre o papel das escolas, das políticas públicas e das grandes empresas de tecnologia. Haidt critica a falta de responsabilidade das big techs ao permitirem que produtos desenhados para captar atenção sejam utilizados por mentes ainda em formação.

A Geração Ansiosa é, acima de tudo, um chamado à ação. Sem ser alarmista, o autor consegue convencer o leitor de que estamos diante de uma crise silenciosa, cujas consequências podem perdurar por décadas se nada for feito. O livro não apenas informa: ele inquieta, provoca e instiga mudanças.

Recomendo a leitura especialmente para pais, educadores, psicólogos e todos que se preocupam com o futuro da saúde mental das novas gerações. Jonathan Haidt nos convida a repensar o que significa cuidar de uma criança em um mundo hiperconectado – e, ao fazer isso, talvez estejamos cuidando também de toda uma geração.